TEMPO DOS RAROS
Você não envelheceu. Tornou-se raro. Tem coisas que antes não tinha. As rugas, o cansaço, o corpo mais pesado. Tem também uma tranquilidade advinda da sabedoria, que só a vida bem vivida traz. A calma que significa “sei que tudo ficará bem”. Os muito jovens não entendem disso, se precipitam, se atrapalham, sofrem com o que está por vir. Você olha e sorri. Ganhou mais respeito das pessoas ao redor.
De fato, é digno disso, pois aprendeu demais e tem muitas histórias para contar. Conseguiu deixar preocupações banais de lado.
Creio que todo mundo em seus pensamentos se imagine adulto. Alguns se imaginam criança. As mulheres imaginam-se grávidas, os homens imaginam-se fortes. Mas não nos imaginamos velhos. Pois velho ninguém quer ser. Velho não é a melhor palavra.
Velho é desgastado, você é resistente. Velho é descartável, você é essencial. Velho é tudo o que não queremos, pessoas como você são tudo o que precisamos, pois temos muito a aprender. Então deixemos de lado essa coisa antiga e ultrapassada de ser velho. Vou chamar o velho de raro.
Se os anos passam e você se entristece, tem vergonha das marcas no seu rosto, fica ranzinza e muito mal humorado, cuidado, você está ficando velho. Mas se você se orgulha, agradece ao seu corpo por suportar tanto, cuida de si por dentro e por fora, vive a vida, aí não tem outro jeito, está se tornando raro.
Você viu? É só uma questão de escolha. Ninguém tem o direito de te chamar de velho. Só acontece se você permitir, se você aceitar, se você se enxergar como um. Então, cuide bem da sua raridade e orgulhe-se dela. Seus filhos, amigos, netos e familiares precisarão de um bom professor para que um dia possam também tornar-se raros.